Crescimento econômico no Brasil acima das projeções nos últimos 5 anos.
Carta da gestão Panamby Capital, outubro 2023.
Muito tem se discutido sobre os motivos dos consecutivos erros dos analistas na estimativa da atividade econômica brasileira desde 2018, sendo que, em 2023, apresentou a maior diferença entre o projetado pelos economistas e o resultado real.
Há várias razões possíveis e uma boa tese é que as reformas realizadas nos últimos anos aumentaram a produtividade brasileira e está surpreendendo mais que o esperado. Reformas Previdenciária, Trabalhista, Tributária, ainda à caminho, marcos regulatórios melhorando saneamento e energia, entre outras, sem dúvida são aspectos positivos e proporcionam uma melhora nas condições econômicas.
Uma outra reforma importante foi nas condições de crédito. Não foi um big bang, mas sim o conjunto de medidas e ações dos órgãos públicos e do setor privado na direção de construir um ambiente de negócios mais saudável, competitivo e com diversidade de participantes. Marco de garantias, alienação fiduciária, maior segurança legal, regulação moderna com novos instrumentos de dívida em mercado, entre outras medidas, aproximou os investidores das companhias que dependem de crédito para seu negócio.
É consenso nos estudos de casos que as economias mais dinâmicas possuem um Mercado de Capitais pujante, que seja próximo e entenda a realidade local, ofereça condições que incentivam o desenvolvimento econômico e social, promovendo a alocação eficiente do capital. Ao mesmo tempo, exige melhor governança, tanto das companhias emissoras quanto do conjunto de participantes.
Do ponto de vista do emissor de dívida corporativa, a oferta de volumes maiores e mais longos, com alternativas de garantias ou covenants que melhoram a nota do crédito, impulsionou a captação local, em troca das emissões externas, que por muito tempo atraiu as grandes companhias brasileiras. Ou seja, a sofisticação e profundidade do Mercado de Capitais brasileiro, trouxe inovação, emprego e externalidades positivas para a economia brasileira.
O investidor também se beneficiou de alternativas variadas de alocação para seus investimentos, em um mercado mais profundo e mais técnico, com transparência, liquidez adequada e precificação tempestiva. Instituições como a ANBIMA e a B3 ajudaram a dar mais transparência para os preços dos ativos negociados no mercado e na padronização dos preços dos ativos de crédito privado.
A participação de atores com diferentes olhares contribui para a demanda por crédito em diferentes setores econômicos, riscos e vencimentos diversos, o que vem a enriquecer o mercado de títulos corporativos. Há menos de 10 anos, a carteira típica de um Fundo de Investimento com Crédito Privado tinha 80% em títulos públicos e apenas 20% em títulos corporativos. Hoje em dia, as empresas representam dois terços do portfólio dos fundos, considerando a indústria de Fundos de Renda Fixa de Crédito Privado muito maior e mais pujante. O fato de existir uma miríade de investidores, sem que nenhum seja grande o suficiente para distorcer as operações, melhorou muito a formação de preços em mercado, nivelando o jogo, e esse é mais um ponto relevante que vale a pena realçar.
Quando as taxas dos títulos são definidas pelo conjunto dos participantes, sem que um grande banco ou investidor influencie a formação do preço final, a tendencia é que seja mais condizente com a real condição do ambiente econômico e da lei da oferta e procura. Os exemplos em 2023 reforçam a sensação de que estamos nesse caminho no Brasil.
No dia seguinte ao último susto de crédito no Brasil, em setembro, já havia negociação com os títulos da empresa em questão, pois investidores especializados projetaram os preços futuros e houve formação de preço nos mercados. O fato de ter preços de compra e venda em mercados é fundamental para o bom funcionamento do mercado, aumentando a confiança dos investidores que, “a algum preço”, seja sempre possível encontrar contraparte e participar do mercado. Os produtos de crédito privado, tais como Debêntures, LCI, CRA, CRI, FIDC, etc..., performam com menor oscilação de preços e a soma desses tantos fatores, impulsionaram os investidores a comprar títulos brasileiros em taxas competitivas e com prazos mais longos, atraindo dívidas que anteriormente eram captadas apenas no exterior.
É interessante também observar o aprendizado, menos óbvio, da evolução desse mercado ao longo do tempo. Quando se buscava aumentar o volume de negócios de crédito privado no Brasil, há 15 anos, além dos fatores citados como precificação, padronização e diversificação de participantes, considerava-se que era necessário implementar uma plataforma eletrônica para os títulos de crédito. Hoje o mercado funciona muito bem via corretoras que aproximam compradores e vendedores, acompanham as oscilações, comunicam e mantem um contato próximo aos participantes, mantendo a confiança no bom funcionamento do mercado. Com o benefício de se olhar para trás, ficou claro que o desenvolvimento desse mercado deveria seguir o caminho mais barato e flexível de intermediários, até chegarmos a hora de implantar a negociação eletrônica.
Uma moderna diretriz internacional considerada crucial para o futuro sustentável, em qualquer economia, é o foco em energia renovável e a transição dos modelos energéticos. Aqui também temos uma boa perspectiva com a oportunidade do fomento de um banco publico, BNDES, que tende a cada vez mais se tornar referência global.
Dessa forma, chegamos na atualidade em que, em setembro, a emissão de crédito privado no mercado primário, totalizou R$ 43,3 bi e totaliza R$ 197 bilhões no ano. Setembro se consolidou com o maior volume mensal de emissões do ano, ratificando a trajetória de recuperação do mercado de capitais. No segmento bancário, as novas operações foram de R$ 1,3 bi no mês, somando R$ 12,1 bilhões no ano.
Enquanto isso, no mercado secundário, destacamos novembro com a maior concentração de debêntures a vencer dentro dos próximos seis meses, com R$ 11,2 bilhões, seguido de março de 2024, com R$ 10,9 bilhões, o que deverá gerar novas emissões.
Aliado ao desenvolvimento do mercado de títulos, a Regulação promovida pelo BC e a CVM acompanhou e propicia a evolução dos fundos de crédito, que se tornaram parte integrante do dia a dia da aplicação de recursos, tanto de pessoas físicas, quanto jurídicas. A indústria de Fundos de Crédito oferece diferentes alternativas, com prazos de resgates variados, com maior e menor risco, credenciando-se, em definitivo, como uma relevante classe de ativos para a alocação de investimentos no Brasil e garantindo um futuro brilhante.
Boa Leitura !!
Leia a carta na Integra aqui:
Hozzászólások